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sábado, 23 de abril de 2011

Pixinguinha- 23 de abril de 1887.







Hoje é comemorado o dia nacional do choro, propositalmente na mesma data em que nasceu o querido Pixinguinha, uma das figuras mais importantes da MPB, assim como do choro. Sem me alongar muito, gostaria apenas de compartilhar um texto escrito por Hermínio Bello de Carvalho assim como a razão de tal apelido para  Alfredo da Rocha Vianna Júnior, que nasceu em 23 de abril de 1887. O apelido Pixinguinha veio da união de pizindim – menino bom – como sua avó o chamava, e bexiguento, por ter contraído a varíola, que lhe marcou o semblante. Dai nasceu o apelido, Pixinguinha.

O texto abaixo não tem titulo, se trata de uma crônica onde Hermínio fala possivelmente a Mário de Andrade sobre letrar ou não chorinhos. 


Pois é.


Estou encalacrado, seu Mário: Paulinho da Viola continua repisando que choro não deve ter letra. Mas ressalva: é um ponto de vista.

Porém, há quem proíba. Ou determine quem pode ou não pode letrar, quem deve ou não deve fazê-lo. Mas Pixinguinha pediu ao Vinicius que letrasse o Lamentos. E agora? Jacob escreveu uns versos para o Ingênuo de Pixinga, eu desconhecia e pedi pro Paulinho Pinheiro fazer. Podia? Devia? Ficou lindo. Importa ou não?
Enfim: letrar músicas compostas por autores falecidos, será ou não ético? Acho que nem Bach nem Nazareth se revirariam nos túmulos protestando por Vinicius ter letrado o Jesus alegria dos homens e o Odeon, e nem Garoto reclamaria com os belíssimos versos que Chico Buarque e Vinicius colocaram no Gente humilde. Ou teria sido preferível que a música continuasse quase no anonimato?

E o Carinhoso, que desde 1917 ninguém conhecia e só com a letra de Braguinha, vinte anos depois, se popularizou? Choro não é para ser letrado? Tudo bem. Vamos jogar no lixo a letra de Carinhoso?

Ou aprovar a atitude pestilenta de Catullo, que pegou o Yara de Anacleto de Medeiros (tema do Choro n° 10 de VillaLobos), jogou o autor pro escanteio, mudou o título da música para Rasga coração e abiscoitou duplo direito autoral?
E o que fazer com a maravilhosa Ademilde Fonseca? Destroná-la como Rainha do Chorinho, apagar e esquecer toda sua discografia?

Eu mesmo letrei o Noites cariocas, o Doce de coco e o Benzinho do Jacob. Ele aprovaria? Letrei ainda Nazareth e Dona Chiquinha. E João Pernambuco. Meu Deus, que dúvida cruel: pisei na bola?

E se não for choro, pode? Mindinha, pessoalmente, dirigiu-se a Max Eschig para autorizar a letra pro Senhora Rainha que fiz para uma marcha do Villa-Lobos. Agiu erradamente? E o Ferreira Gullar, que letrou o Trenzinho caipira? Pode ou não pode? E Chiquinha Gonzaga, revisitada agora por alguns dos nossos maiores letristas? Cartão vermelho para eles, pra Joyce, Paulinho Pinheiro, Ana Terra, Abel Silva? Ficarão todos ricos com essa homenagem? É uma questão ética ou de censura estética? E cá venho eu consultar teu Dicionário musical brasileiro, e encontro meu Mestre ressaltando o “caráter anticancioneiro e anticoreográfico de certos choros.”
“Certos choros”? Me embatuquei! Mas, pelo menos, a questão foi colocada agora não de forma meramente preconceituosa, mas inteligente.





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